Brasileiro adora perguntar a função das coisas e do por que você ter comprado algo. Sempre tento entender esta máxima, que se para valer seu dinheiro, o bem comprado deve suprir alguma necessidade importante. Como uma casa pra morar, um carro pra se locomover, ou… um vídeo game? Um iPad? "Por que você foi comprar isso?"
Claro, nós aqui no Brasil até hoje torcemos o nariz pra vídeo games, celulares,
gadgets... enquanto o resto do mundo os abraça. É normal ver alguns espertalhões bradarem com síndrome de Nostradamus: "isso não vai pegar". Se você for ouvir os outros e suas premonições advindas da aversão tecnológica que o brasileiro empenha tanto em bradar a quatro cantos, você vai ficar na máquina de escrever ou jogando Brick Game 9999in1.
Pessoas criticam quem joga vídeo game mas vibram por 11 homens correndo atrás de uma bola, ou uma flâmula, ou para o vencedor de um
reality show. Toda esta torcida é boa, muito contrário do que muitos acham. Somos seres institucionais e precisamos de um "chão" para nos apoiarmos, e este chão é a mídia e as formas de interação lúdicas (aqui no sentido de dar prazer). Para alguns esta torcida advém de um produto como é meu caso, que gosto de adquirir novidades, claro, após testa-las.
É o fato, como um amigo meu disse a alguns dias: "Cara, vou comprar um PS3 pra jogar. Pra minha mulher falo que é pra assistir
bluray, porque sai mais barato que um tocador em si". A famosa desculpa para esconder a compra pelo
hype ou gosto pessoal, aqui no Brasil as pessoas tem medo de bater no peito e falar que torram grana para se divertirem, terem entretenimento, é o famoso âmbito que o cara que não se diverte ou gasta com "bobagens", ou é visto como um crianção ou um vagabundo que perde seu tempo em outras coisas a que o trabalho suado.
É normal para um país onde a incerteza e desconfiança se faz presente, nada tem futuro de acordo com os analistas tupiniquins: Halo é um jogo que não venderá nada, notebooks não vão pegar porque não rodam jogos maiores, Atari estraga a TV, jogar depois do almoço dá congestão, compras pela internet são enganação, e Orkut e Youtube são antros de pedófilos (Datena, 2010).
Como moro no interior, multiplique estas condições por mil, me vi diante de um embate: aturar os olhares invejosos ou comprar de vez um iPad. E claro, por aqui o iPad virou um "iNvej" =).
Apertei um pouco, enfiei a mão no bolso e pedi pra um amigo trazer dos EUA a tábua digital da Apple, o preço ficou muito mais em conta. Trouxe ele com a capinha original (como se pode ver a foto) que o deixa com a cara de um caderno, e um adaptador VGA.
Foi chegar e mostrar pros outros e estava ativada a famosa verborragia brasileira: A quantidade de comentários cretinos como "isso é inútil" ou "é um iPhone gigante" era presente por digamos 15 minutos, este preconceito gerado quase que instantaneamente com uma pontinha de inveja, mas é deixar pouco tempo tal
gadget na mão de alguém para o mesmo reclamão cair em elogios e perguntar: "Onde comprou?"
Foi como na época do "booom" dos
notebooks, no qual comprei um a uns 4 anos em 12 vezes suadas no Magazine Luiza e fui criticado ao extremo por todos aqui, meses depois todos de
notebook. Mais tarde comprei um
netbook, um Acer One branquinho, mais uma vez alvo de críticas "mas você não tem um notebook já?"… e assim foram, celulares, iPhone, Macs, etc... Ainda mais se for algo da Apple, ser chamado de
fan-boy é algo constante, considerado parafernálha cara, porque brasileiro não gosta de coisa cara, é a síndrome de cachorro que caiu da mudança, o ode à pesquisa de loja em loja e a glorificação do mais barato! A comparação ignóbil do seu bolso com produtos mil e a ode à pobreza.
Ouvi demais: "Comprei um computador pela metade do preço do seu iMac, muito melhor!" Pois que seja, mas uso o bicho mesmo pra rodar Final Cut Pro, que infelizmente tal progenitor da frase não rodará a não ser por gambiarra.
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