• A cultura da corrupção

      Muito embora costume aparecer e ganhar destaque nos noticiários em períodos eleitorais, a corrupção encontra no meio político apenas uma de suas ramificações, ela esta impregnada em toda a sociedade, em todos os extratos sócio-culturais, em todos os níveis de instrução acadêmica, em qualquer camada de renda. A corrupção é inerente e natural a grande parte dos brasileiros e na maior parte dos casos não é encarada como crime por aqueles que a praticam, chegando ao absurdo contraditório de ser publicamente rechaçada por aqueles que de uma forma ou de outra, são corruptos.

      Corrupção pode ser entendida como o ato genérico de corromper, no Brasil o termo cristalizou-se sobre o significado de aproveitar-se de uma posição política para conseguir ilegalmente vantagens financeiras.

      De forma geral a condenação da opinião pública, a práticas políticas corruptas, serve mais como escape de compensação moral do que sincera manifestação de indignação. A prática de corrupção esta tão impregnada em nossa sociedade que é difícil encontrar alguém com pedras na mão preparado a atirar em um corrupto, na maioria das vezes ouvimos apenas um burburinho de descontentamento de gente olhando desconfiada para um teto frágil sobre suas cabeças.

      O mecanismo mais comum de justificativa a corrupção adotada pelos brasileiros é o da compensação informal pela injustiça inerente ao trabalho prestado. Nesta linha de defesa pessoal, na qual o indivíduo procura proteger sua moral através de uma explicação, distorcidamente, lógica pela prática, a corrupção é apenas um meio pelo qual o indivíduo equilibra o que considera uma indevida compensação monetária oficial pelos resultados efetivos de seu trabalho.

      Os níveis de contradição moral do corrupto são gigantescos, o princípio da compensação informal serve para ele como equilíbrio de consciência. Sujeitos corruptos não se veem na maior parte das vezes como foras da lei, mas sim injustiçados, muito embora a corrupção seja criminosa. Dessa forma o indivíduo precisa criar meios de não associação pessoal de sua conduta a de outros crimes tradicionais, como assassinato ou roubo. É uma coberta de autoperdão, que encontra conforto em regras frágeis à lógica moral coletiva, mas eficazes ao conforto da interpretação pessoal.

      Este artigo foi publicado originalmente no tópico do fórum: A cultura da corrupção iniciado por kingMOB Mensagem original
      Comentários 23 Comentários
      1. Avatar de tomsa2
        Grande texto, King.
        O que vc fala sobre a pratica no ambiente corporativo esta certíssimo. A 'bola' é coisa mais comum do mundo. Outro dia ouvi chamarem bola de ICM (incentivo ao comprador moderno. Hehehehe). Agora vai tentar mandar esse cara por justa causa! Melhor nem tentar... As empresas colocam o cara na parede para ele pedir demissão e deixam o sujeito com ficha limpa rodando o mercado repetindo sua atuação.
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      1. Avatar de Hicks
        Aceitar isso? Tá de brincadeira né?

        Se tivesse investimento na educação isso melhoraria, pode ter certeza.


        ps: "EstimaSse?"
      1. Avatar de ganondorfan
        O melhor do Brasil é o brasileiro. Clique para abrir a imagem em nova guia
      1. Avatar de hirano
        Ganho parte do meu salario sem declarar a receita e compro muamba. Posso ser considerado corrupto?
      1. Avatar de ganondorfan
        Sim, isso é crime.
      1. Avatar de E.T. GLUGLU
        reflexo do povo

        politico nao vem de outro planeta
      1. Avatar de InsanU
        Clique para abrir a imagem em nova guia Citando E.T. GLUGLU Clique para abrir a imagem em nova guia
        reflexo do povo

        politico nao vem de outro planeta


        Eu até ja cogitei a hipotese que pudessem vir sim, mas agora que vc o ET, disse isso realmente mudei completamente meu conceito.
      1. Avatar de Diego - Evil
        Palmas pro King.

        Corrupção come solta tb no meio corporativo.
        Isso ja na porta de entrada, onde muitos processos seletivos sao faxada pra contratar alguem do ineteresse.
        Esse tipo de gente, é tambem aquele que critica o Sr. Sarney por arrumar emprego ao namorado de sua neta.

        Mas na realidade, são iguais.
      1. Avatar de toledo
        Muito bem escrito ...... e a cultura Quilingue

      1. Avatar de rdgr
        A corrupção no privado é tão comum quanto no público.
      1. Avatar de tt.klepker
        cada pessoa é um corrupto em potencial.. inversamente proporcional à sua responsabilidade e diretamente ao seu nível de poder
      1. Avatar de Guns
        Clique para abrir a imagem em nova guia Citando ReDGRounD Clique para abrir a imagem em nova guia
        A corrupção no privado é tão comum quanto no público.
        A diferença (no Brasil) é que o privado funciona.
      1. Avatar de eyamamoto
        Clique para abrir a imagem em nova guia Citando Guns Clique para abrir a imagem em nova guia
        A diferença (no Brasil) é que o privado funciona.
        é obrigado a funcionar se quiser continuar existindo.
      1. Avatar de Guns
        Clique para abrir a imagem em nova guia Citando eyamamoto Clique para abrir a imagem em nova guia
        é obrigado a funcionar se quiser continuar existindo.
        Yep. Clique para abrir a imagem em nova guia
      1. Avatar de William Munny
        Ja foi feita uma pesquisa q mostrou q muitos brasileiros se tivesse a oportunidade, se aproveitariam do bem destinado ao uso público p/ uso próprio. É lamentável, é cultural
      1. Avatar de Brehmer
        O difícil é entendermos que a política é a castração das potêncialidades humanas...mais difícil ainda é pensarmos em estratégias para não precisarmos de representantes corruptos...bom, eu só conheço o Socialismo Científico...alguem mais apontaria algo..?..=]
      1. Avatar de Cheiro do Ralo
        A burocracia e as tentações
        Rodrigo Martins

        Pesquisa inédita revela como os servidores lidam com a corrupção

        Um terço dos servidores públicos federais já sofreu algum tipo de pressão no exercício de suas funções e 22,6% foram vítimas de tentativas de suborno. Os dados são de uma pesquisa inédita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que ouviu 1.115 funcionários de órgãos da administração direta, autarquias e fundações mantidas pela União. Coordenado pelo cientista político Fernando Filgueiras e financiado pelo Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crime (UNODC, em inglês), o estudo também revela a fragilidade dos mecanismos de controle na administração pública.

        “Houve avanços na gestão pública, mas ainda falta uma política de Estado capaz de envolver os Três Poderes republicanos, para o enfrentamento da corrupção”, avalia Filgueiras. “O objetivo não é desconstruir a imagem de governos ou partir para uma análise moralista da questão, que dá respaldo às interpretações do senso comum de que a política é naturalmente suja e a corrupção é inerente ao Estado ou à cultura brasileira. E sim apontar para os desafios institucionais que temos de enfrentar para aprimorar o controle sobre administração estatal. No Brasil, falta uma política de Estado capaz de integrar os diferentes órgãos de fiscalização e controle, bem como garantir um processo célere no Judiciário, para evitar a impunidade.”

        Mais de dois terços dos servidores que se dizem vítimas de pressões no trabalho, de pedidos para agilizar processos à concessão de facilidades de toda espécie, afirmam que a coação partiu de seus superiores hierárquicos. Perto de 12% apontam os empresários como os responsáveis pelo constrangimento e ao menos 4,3% seriam deputados federais. A listagem de agentes de pressão inclui prefeitos, diretores de ONGs e até mesmo jornalistas, estes últimos citados por 0,3% dos entrevistados.

        Dado alarmante: mais da metade dos entrevistados afirmam que o suborno e a cobrança de propinas são práticas presentes nos órgãos em que atuam. A tentativa de suborno é apontada como existente, mas pouco frequente por 43,3%. Para 11,7% dos servidores, trata-se de uma prática habitual. A cobrança de propina também foi apontada por um número significativo de servidores públicos. Perto de 45% deles afirmaram que ela é pouco frequente e 24,8%, habitual. A corrupção manifesta-se, principalmente, em procedimentos ligados a licitações, execução de contratos, concessão de licenças e fiscalização de empresas.

        Mais de 28% dos funcionários públicos consultados afirmaram ter detectado, pessoalmente, suspeita de corrupção nos órgãos em que atuam. Desses, apenas um terço denunciou a prática ilícita. Entre os que preferiram permanecer em silêncio, a principal justificativa é a falta de provas e evidências, apontada por 68,4% dos entrevistados. O medo de sofrer represálias (12,1%) e o desconhecimento dos procedimentos para denunciar (7,4%) receberam ainda bastante destaque nas respostas.

        Entre os fatores que contribuem para a corrupção estatal, 32,2% dos entrevistados apontam a impunidade e a existência de um sistema judicial ineficiente. A cultura brasileira do “jeitinho” e a ganância dos maus servidores são outras das causas citadas (20% e 10,4%, respectivamente). “Esse resultado não chega a surpreender. Reflete o que a população em geral pensa, conforme pudemos verificar em pesquisas anteriores, realizadas em 2008 e 2009. Parte daquele pressuposto de que a política é suja e o brasileiro é um povo corrupto”, comenta Filgueiras. Curiosamente, a falta de fiscalização, transparência e controle foram assinaladas por apenas 8,9% dos entrevistados. “Com a Constituição de 1988, o Brasil avançou bastante na criação de mecanismos de controle burocráticos. A maioria dos órgãos de administração pública tem uma divisão de fiscalização interna. A grande desconfiança repousa mesmo sobre a Justiça, tida como morosa ou inoperante.”

        Quase 60% dos servidores consideram, porém, os controles internos da administração federal como frágeis, diante de 36% que os avaliam adequados e de 4,1% que acreditam ser excessivos. Quanto às instituições externas, a aprovação é grande. Mais da metade dos entrevistados consideram adequada a atuação da Controladoria-Geral da União, do Ministério Público e da Polícia Federal.
        O estudo revela ainda uma forte desconfiança em relação aos altos cargos do governo. Ao menos 60% dos servidores acreditam que a maioria ou metade das pessoas que ocupam esses postos aceitaria entrar em esquemas de corrupção. Além disso, os entrevistados apontam a Câmara dos Deputados, o Senado e as Assembleias Legislativas como as instituições onde a corrupção se manifesta mais. “Novamente podemos dizer que essa é uma percepção semelhante ao do resto da população, de acordo com estudos feitos anteriormente. Em parte, isso tem relação com a constante veiculação de notícias de corrupção envolvendo parlamentares. Mas também acredito que não conseguimos criar controles adequados para a atividade legislativa”, destaca Filgueiras.

        Outro aspecto negativo apontado pela pesquisa é a baixa qualificação dos servidores públicos. Metade dos entrevistados afirmou nunca ter recebido formação sobre ética no serviço público. E 42,7% declararam não ter participado de cursos sobre as leis gerais e específicas que regulam o serviço público.

        “Não apenas é necessário melhorar a qualificação dos servidores como é preciso aprimorar os mecanismos de controle. Essa pauta passa, sem dúvidas, pela reforma do Judiciário, de modo a garantir um controle mais eficiente do Estado, bem como uma investigação e um processo mais célere”, afirma o pesquisador. “Mas reitero que isso não basta. É preciso criar uma política de Estado contra a corrupção, assegurar que os órgãos de controle tenham efetividade, dialoguem entre si, cruzem informações, estejam interligados. Em certa medida, é preciso valorizar a burocracia estatal. Isso não significa que devemos paralisar o Estado com procedimentos excessivos de fiscalização, e sim ter como natural um trâmite de transparência e controle permanente.”

        fonte: http://www.cartacapital.com.br/polit...e-as-tentacoes


        Destaco também este artigo que fala desta mesma pesquisa. No entanto, é o próprio coordenador da pesquisa que escreve o artigo.

        http://www.cartacapital.com.br/polit...dos-colarinhos

        Além disso, vale conferir o livro que ele produziu: http://www.ufmg.br/boletim/bol1633/7.shtml

        Trecho interessante: "Filgueiras explica que o sentido original de corrupção, na perspectiva da filosofia grega, está relacionado à concepção de decadência de um regime político. A partir do Renascimento, especialmente em Maquiavel, o termo define a decadência da idéia de república. Na modernidade, com a concepção de História como processo, passa a se ligar à idéia de interesses. E, finalmente, nas sociedades mercantis, a corrupção se associa às rotinas administrativas do Estado – e o Direito tornou-se elemento crucial para definir o que é e o que não é corrupção."
      1. Avatar de Gilmar Dickinson
        No comeco o sujeito aceita fazer algo assim por necessidade, depois por influencias e depois por habito mesmo....
        Como disse um amigo acima, o melhor do Brasil eh o brasileiro rsrsrsClique para abrir a imagem em nova guia
      1. Avatar de Tunner
        Muito bom o texto. Estou aqui sentado lendo sobre algo que me revolta, mas não sou capaz de fazer nada e nem quero também, porque se eu sair na rua pra gritar pedindo mobilidade do povo é capaz de uma multidão se reunir e me falarem: burro, você não vai conseguir mudar nada.
      1. Avatar de doublezero
        ahh que tópico bobo, quem é o autor dessa porcaria?







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