Existem técnicas para desmascarar um mentiroso: pupilas dilatando, sudorese, salivação, micro expressões faciais, gestualização contida ou exagerada, direcionamento de foco... no entanto além de serem análises relativas e passíveis de erro de interpretação, elas dependem exclusivamente da observação de manifestações físicas.
Se desvendar visualmente um mentiroso já é algo complicado, como fazer quando a mentira vem impressa no monitor?
A internet não inaugurou a era da mentira impressa, ela já existia a muito em qualquer mídia que traga palavras escritas, sejam jornais, revistas ou correspondências, no entanto a internet amplificou o sistema de comunicação por texto a um nível de dependência e confiança pessoal e corporativa.
Seja em fóruns de discussão, programas de mensagens instantâneas ou correio eletrônico, o mentiroso encontrou um ambiente protegido da delação de seu próprio corpo. Em alguns casos o que antes poderia ser um exercício esporádico de ilusionismo da verdade, encoberto pela proteção de um modem, torna-se algo exagerado, compulsivo.
Então, como desmentir o mentiroso? E por quê?
Existem programas especializados em detectar traços de mentira em textos, no entanto são caros e precisam ser alimentados com dados que vão além do texto, para uma análise mais imediatista existem pistas deixadas por teclas pressionadas que podem delatar uma falácia.
Um estudo publicado a alguns anos (o qual peço perdão por não referenciar neste momento) identificou que textos mentirosos tem em média 28% mais palavras que textos verdadeiros. Esta constatação vem de encontro a um mesmo método de identificação vocalizada de uma mentira. O mentiroso tenta prolongar excessivamente sua comunicação tentando criar um ambiente de confiança a partir de detalhes inventados para sustentar melhor sua mentira.
O mentiroso também se aproveita da possibilidade de reflexão e revisão do que escreve no sentido de eliminar aspectos casuais e ambíguos em seu texto, tornando-o excessivamente conciso. Uma pessoa quando esta sendo sincera deixa seu texto fluir mais naturalmente, casualmente, e se expõe a erros e equívocos.
Um texto mentiroso normalmente vem carregado de "expressões textuais de sentido", que tentam simular no monitor sensações físicas a fim de criar o cenário fictício necessário ao convencimento da mentira. Uma boa falácia textual vai tentar transportar cheiros e sentimentos para os olhos de seu leitor.
Um mentiroso textual, quando inseguro de sua ação, tende a adotar uma posição defensiva, variando de explosões de agressividade e grosseria a, principalmente, retração autopiedosa e convencimento pela vitimização.
A alteração súbita de foco de um assunto também delata a mentira, quando um questionamento que poderia desmontar a falácia é completamente ignorado em favor da troca de tema e o desenvolvimento forçado de uma linha de discussão mais segura para o mentiroso.
Finalmente, um digitador mentiroso procura "socializar" o conteúdo de sua mentira, distanciando-se pessoalmente do foco de seu texto atribuindo suas intenções a terceiros no sentido de agrupá-los passivamente ao propósito de suas intenções.
É claro estes são traços genéricos de identificação de uma mentira por texto, assim como a observação pessoal, a comunicação por texto também pode confundir a interpretação do que seja verdadeiro ou não.
A experiência de convivência, assim como a verificação das fontes de um tema levantado pelo mentiroso e a opinião de terceiros ajudam muito a conseguir identificar o que seria, por exemplo, um adulto barbado fazendo-se passar por menininha de colegial em um programa de mensagens instantâneas, ou um funcionário relapso tentando escamotear incompetência e preguiça com ocupação e comprometimento para seu chefe por email, ou um tímido pré-púbere se projetando no monitor como um varão destemido em um fórum de discussões, ou um caloteiro vestindo o manto do texto escrito da idoneidade.
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