Não sei exatamente quando o rock nacional entrou em catarse, hoje delicado, frágil e chato, uma catarrada etílica poria fim a essa agonia, enterrando em bolachas de acrílico impresso derretido tamanha mediocridade por que passa nossa cena musical comercial.
Vejam bem, bandas para menininhas choronas sempre existiram, grupos de acasalamento musical da mesma forma, e sempre vão existir, o problema é que houve um tempo em que elas coadjuvavam, hoje estão a frente do palco, drenando toda a iluminação, ofuscando comercialmente qualquer outra oportunidade, e parece não vão mais desgrudar das estações e canais.
Este modelo de banda que ainda cheira a leite materno ou empresário do sexo, vende a aparência andrógena (uma fada nua acaba de morrer no ombro de Bowie) ou bundas volumosas, tão populares entre a petizada, é apenas um instrumento de inflar egos e cuecas. Felizmente, trazem em sua origem os elementos de sua derrocada. Sua base é desengonçada, consolidada em laquê e silicone, seu interesse musical equiparado ao de uma hiena frente a uma salada de cebola e sua motivação puramente financeira.
O tempo antes se encarregava de acabar com essas prateleiras de fantoches musicais e nádegas cantantes, quando as rugas começavam a aparecer, a cara endurecia ou as bundas caiam eles se esvaiam, sem deixar saudade alguma, sem contribuir com nada além de uma incômoda lembrança vergonhosa.
Mas o rock nacional esta enterrado nas rádios e na televisão, tão fundo quanto a base das torres de transmissão e tão visível quanto. Ele ainda existe, em porões úmidos e endereços estranhos na internet, mas para chegar a ele precisamos cavar muito.
Quando foi que isso aconteceu?
Muito embora tenham lá sua parcela, não dá para culpar apenas as rádios e os canais musicais de televisão. Eles estão aí para atender a um público, e mesmo entre um jabá e outro, entre um empresário e outro entulhando "investimento" para empurrar seus rebentos ou "clientes" na programação, ainda existia espaço para divulgar música que não soasse como o som que deve fazer o peido de um arco-íris ou o relincho de uma esfincter.
Então, se bandas para menininhas sempre estiveram na cena, assim como grupos musicais pornôs, tímidos e recolhidos a inerente vergonha de sua existência, o que aconteceu que causou tal infecção generalizada? Como foi que elas infestaram a cena musical ao ponto de dominar toda a programação?
A resposta pode ser assustadora e esta bem em frente ao espelho: não existe espaço para o rock pois não existem mais rockeiros.
O velho rock só pode ser cultivado a constantes regas de suor e álcool, em estufas esfumaçadas, fertilizado à botinadas (não quero fazer apologia aqui, é simplesmente assim) e entremeado a crítica política e contra-cultura. Isso não existe mais. A testosterona que antes fluía dos bagos da juventude e que impulsionava bandas de rock hoje não existe mais, castrada em adolescentes xaropes, egocêntricos e acomodados que nunca espatifariam seus instrumentos com receio de quebrar uma unha ou queimariam suas guitarras com medo de inalar fumaça cancerígena. Os clubes hoje são passarelas inócuas, lugares tediosos entulhados de gente desinteressante que esta lá para ser vista, esta é trilha sonora deles, cânticos ao ego, música para aparecer.
Os últimos padres não foram enforcados nas tripas dos últimos políticos, os últimos rockeiros é que morreram afogados em seus próprios vômitos, enforcados por cordas distorcidas enferrujadas ou empalados por agulhas contaminadas, e não fertilizaram mais o solo musical. Hoje a terra esta seca, estéril e contaminada de tanto laquê, maquilagem, silicone e cacos de espelhos. Numa sociedade que pretende viver para sempre, esta será nossa trilha musical. O ego venceu a criatividade, bundas e coxas ofuscaram o talento, o sangue desceu todo para dentro das calças e a culpa é nossa, a mídia esta aí para nos alimentar culturalmente com o que queremos: lixo.
Mensagem da hardMOB