Muito embora tenha vivido durante a ditadura ainda era muito novo para entender completamente os mecanismos de repressão da época, a percepção de tolhimento do conceito de liberdade vem apenas de forma clara ao final da adolescência e início da vida adulta, antes disso ainda há confusão demais em uma mente intoxicada demais por hormônios e esse sentido de repreensão é ainda muito entremeado aos vendilhões das relações paternas durante o crescimento.
Liberdade e censura tornaram-se palavras fortes durante e logo após os anos de chumbo no Brasil, aquela nobre e iluminada, esta violenta e sombria. Invocar a liberdade era associar conceitos de livre expressão de pensamento político, social e cultural, de informação. Censura era o tolhimento violento de qualquer expressão de pensamento crítico.
Mas o tempo não foi generoso com ambas palavras, banalizadas e adulteradas hoje estão retalhadas, um arremedo desconfigurado do que antes significavam. Numa sociedade que esta cada vez mais grosseira e egoísta, os que antes eram frutos de desaranjos familiares e motivo de reprovação social, hoje evocam o conceito de liberdade para justificar suas falhas, e quando repreendidos arrotam serem censurados.
Essa percepção de liberdadade como a possibilidade de fazer irresponsavelmente qualquer coisa sem nenhum controle ou responsabilidade social, ou legal, vem em parte de uma escola pedagógica que foi implantada lentamente no Brasil a partir do final do século passado, que pregava o fim de um modelo de educação "repreensivo". Onde o conhecimento deveria ser compartilhado pelo professor e não imposto aos alunos. Junto a esta metodologia venho a integração da "comunidade" ao ambiente escolar e o fim de qualquer método "bárbaro" de repreensão de má conduta em sala de aula.
Muito embora o princípio tenha sido correto, na implementação prática a falha foi colossal.
Adentraram nas escolas elementos políticos da "comunidade" que interferiram nos quadros administrativos e docentes, o professor que antes já tinha trabalho suficiente no sentido de trasmitir (ou que seja, compartilhar) conhecimentos agora tinha que se preocupar com elementos de educação básica de seus alunos, que deveriam na verdade ser geridos e administrados no ambiente familiar. A responsabilidade sobre a educação (tanto acadêmica quanto pessoal) recaiu totalmente sobre o professor. Um aluno não reprovaria mais pela sua falta de capacidade, pela sua ausência de interesse, pela sua grosseria ou o desinteresse de seus pais, reprovaria única e exclusivamente pela falha do professor.
A maneira como essa metodologia fora implementada gerou uma personalidade preguiçosa, agressiva e estúpida em boa parte dos alunos formados neste ambiente, de atribuirem a responsabilidade de suas falhas a terceiros, de não assumirem nem refletirem sobre seus erros. Uma leva enorme de crianças foi, e esta, sendo criada sem a capacidade de reflexão auto-crítica, achando que podem fazer o que querem onde quiserem, como se ainda tivessem a proteção de seus 3 anos de idade.
Concomitante temos também o ambiente familiar, onde os pais começaram a perceber que era mais fácil cobrar pela educação de seus filhos de um terceiro, e nisso entram televisão, escola, livros, filmes, quadrinhos, música, do que assumir a responsabilidade da formação ética e social de seus rebentos. Essa nova metodologia "libertária" foi o escape perfeito para que pais ausentes atribuissem a outros as consequencias anti-sociais de sua ausência na criação de seus filhos.
E foi essa geração que encontrou em "liberdade" a terminologia perfeita para justificar a manifestação de seus desarranjos sociais, éticos e até legais, em "censura" a tentativa de nobreza em se proteger da repreensão, e na internet um abrigo de "expressão" de sua barbárie. Curiosamente a intransigência e agressividade em relação a opinião alheia, que de fato é uma manifestação violenta (verbal, mas tão brutal quanto física) de censura clássica, e é inerente a essa manada de pequenos ditadores, não lhes é vista como tal. Liberdade não é irresponsabilidade, censura não é civilidade, mas passaram a ser.
Liberdade e censura são palavras que hoje perderam seu sentido clássico mais nobre, são amontoados de letras vadias em bocas sujas, deveriam ter sido tombadas pelo patrimônio literário brasileiro e uma nova terminologia usada para que a escória órfã tenha algum punhado de palavras para se defender de quando é repreendida. Liberdade e censura nunca deveriam estar na boca destas pessoas, elas estão ruminando palavras junto a podridão de seus estômagos e são incapazes de as saborear.
Mensagem da hardMOB